sábado, 26 de janeiro de 2013

FUTEBOL E PEDOFILIA








Se Você tem filho praticando Futebol é importante você saber quem são as pessoas que estão ao lado de seu filho.

A PEDOFILIA E O FUTEBOL

Matilde Carone Slaibi Conti
Cirurgiã-dentista
Especialista em Saúde Pública
Advogada
Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais
Professora da UNIVERSO

O crescente número de denúncias de pedofilia no futebol tirou dos porões os antes casos isolados, que eram tratados quase como um folclore em torno do assunto. Hoje, especialistas no combate a esse crime já falam em uma rede organizada, cuja ação obedece a uma lógica que se repete.
De acordo com o advogado Waldemar Oliveira, a ação obedece sempre a um mesmo esquema, que transforma os garotos que tentam a sorte, no esporte, em uma presa fácil para pedófilos.

O esquema é simples: busca-se o garoto no interior, sempre garotos pobres, com muita vontade de mudar de vida, tanto a sua como a de uma família geralmente numerosa, que fica esperando tudo dele. Para esse garoto, acena-se com um monto de coisas e contratos. Garotos com esse perfil são presas muito fáceis.

Não se pode deixar de mencionar que cria-se uma cortina de silêncio em torno dessa exploração sexual, garantindo a impunidade dos exploradores e uma certa ineficiência do combate aos perversos sexuais.
A pedofilia, segundo juristas, é um dos crimes mais difíceis de serem caracterizados, o que obviamente dificulta a condenação. Seja no futebol ou não, a falta de punição é um estimulante à atuação dos pedófilos.
O crime de pedofilia no Código Penal não está tipificado. Ele é enquadrado no capítulo de crimes contra a liberdade sexual, artigo 214, que trata de atentado violento ao pudor.
O principal obstáculo da Justiça é convencer as vítimas ou seus responsáveis a fazer a denúncia, pois sentem-se diminuídas, aviltadas. O constrangimento torna-se arma poderosa do criminoso. A maioria das denúncias recebidas pela ABRAPIA e pelas Varas de Infância são anônimas ou feitas por testemunhas. Isso aconteceu, por exemplo, em casos investigados em escolinhas de futebol de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Além-Paraíba, e no Estado de Minas Gerais, entre outros.
A face cruel deste flagelo no futebol sempre foi vista mais como lenda do que como realidade. A denúncia chegou ao Ministério Público do Rio em 2000 e, assim como tantas outras, não pode ter os nomes dos personagens revelados antes de uma decisão judicial. Tema tão delicado quanto revoltante, a pedofilia atinge o futebol em proporções crescentes e surpreendentes. Segundo especialistas, o crime talvez seja tão praticado quanto antigamente, mas agora os pais têm encontrado mais coragem de denunciá-lo.
Na ABRAPIA, Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência, existem 28 casos catalogados de pedofilia no esporte, sendo 15 só no futebol.
Todos foram encaminhados ao Ministério Público, a Conselhos Tutelares e às polícias civil e federal para investigação. Nos últimos dois anos, a 2ª Vara de Infância e Adolescência vem recebendo uma média de três denúncias por mês envolvendo clubes e escolinhas de futebol do Rio de Janeiro. A instituição abre sindicância e investiga cada história com policiais à paisana.
“A maioria dos casos tem a ver com troca de favores sexuais, como sexo oral, por uma vaga no time”. Essas afirmações são do Juiz Guaracy Vianna, da 2ª Vara da Infância.
A vaga no time é, de fato, o que o técnico, funcionário ou dirigente tem de melhor a oferecer às crianças, geralmente pouco instruídas, que chegam ao clube com a esperança de sucesso no futebol. Foi esse também o chamariz usado por professores de uma escolinha de um time grande em Inhaúma, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.
A proliferação de pedófilos no futebol tem uma explicação simples. O vestiário é o habitat perfeito para criminosos travestidos de profissionais do esporte que desejam abusar das crianças. É lá que elas trocam de roupa na frente de todos. É como se o primeiro passo para o crime, fazê-la ficar nua, já fosse dado naturalmente.
O vestiário é o fator facilitador nessas situações. Ali fica mais fácil seduzir o garoto, conforme afirmam os depoimentos tomados.
De fato, vários investigadores especializados em abuso sexual infantil põem o técnico de futebol de crianças entre as profissões mais comuns para pedófilos, ao lado de professores e médicos. São, na quase totalidade dos casos, pessoas perfeitamente inseridas na sociedade, o que dificulta sua identificação. Além do fator vestiário, existe a ascendência natural de uma pessoa que vira referência para o menino; no caso, alguém que poderá levá-lo a se tornar profissional em um clube de futebol. No início, poucas crianças desconfiam da verdadeira intenção do técnico ou dirigente.
Cumpre assinalar que não causa estranheza a quantidade de casos em clubes e escolinhas de futebol. O pedófilo precisa de criança, porque só com ela se satisfaz sexualmente. Conseqüentemente, ele vai estar onde tem criança. Ainda mais uma que está ansiosa por sua ajuda.
Foi sabendo disso que João Batista Lisboa, de 40 anos, apareceu no Parque São Lucas, bairro pobre da Zona Leste de São Paulo, intitulando-se ex-jogador de futebol. Seu discurso era tentador: levaria meninos para clubes grandes de São Paulo, onde dizia conhecer técnicos e muitas pessoas importantes. Procurou cativar os pais, dizendo que as crianças só poderiam freqüentar as aulas de futebol se fossem assíduas na escola. Quando ganhou a confiança dos meninos, começou a se aproveitar deles.
Segundo o depoimento da mãe de um menino de 13 anos, vítima do pedófilo João Lisboa:
Meu filho sempre quis ser jogador de futebol. Seu sonho era jogar no São Paulo, clube de seu coração. Depois do abuso, ele nunca mais jogou bola. Já nem pensa mais em ser jogador. Outro dia, eu o vi olhando de longe para uma bola aqui no quintal de casa.
Meu menino ainda é muito medroso, apesar de receber ajuda de um psicólogo até hoje. Ele tem medo de ir sozinho, à noite, na casa da minha mãe, que fica num sobrado em cima aqui de casa. Na pior época, meu filho só tomava banho de luz apagada. Acho que tinha vergonha do próprio corpo. Eu já estava estranhando esses medos todos, além de ter notado manchas roxas nas pernas e nas costas dele. Além do abuso, ele batia no menino. Mas só descobri tudo quando a mãe do outro garoto encontrou uma mancha de sêmen no short do filho.
Até hoje não sei direito o que esse homem fazia exatamente com o meu filho. Ele ficava com medo de me contar porque o técnico ameaçava me matar se isso acontecesse. Depois, também não tive coragem de ler o depoimento do meu filho na delegacia. É muito duro. Só aceitei dar esse testemunho com autorização do menino. Ele disse que faria tudo para ajudar a prender outros doentes como esse.
Se eu dissesse que já perdoei o homem que acabou com o sonho do meu filho, estaria mentindo. Ainda peço a Deus que me dê a graça de perdoá-lo.

O caso de João Lisboa é raro nos processos de pedofilia, pois houve punição. Ele foi condenado ano passado a 60 anos de prisão, 15 anos para cada adolescente que confessou ter molestado, pena recorde para crimes deste tipo. Sua tática era a mesma da maioria dos pedófilos, sendo que a série de abusos só terminou quando um deles acabou por contar à mãe por que tanto demorava no vestiário.
Conseqüentemente toda a vizinhança foi avisada.
Nos porões do futebol também são assinados contratos de garotos com empresários que contêm irregularidades e são nulos.
Pelo artigo 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promover o envio de menor com objetivo de obter lucro é crime sujeito à reclusão. Assim, a simples existência do contrato é uma ilegalidade que o torna nulo.
A autorização para os procuradores utilizarem a imagem do atleta também infringe o art. 17 do ECA, que assegura preservação da imagem da criança e do adolescente.
Sendo todos esses direitos inalienáveis e inegociáveis, os pais estão sendo levados a assinar contratos nulos e as multas pesadas previstas nos contratos constituem crime de extorsão, conforme afirma Siro Darlan, Juiz da 1º Vara da Infância e da Juventude do Rio, que não tem dúvidas ao qualificar o tipo de relação que se estabelece.
Eles adquirem os direitos personalíssimos dos jovens atletas, transformando-os em seus escravos. Desde setembro de 2001, a Fifa também proíbe a transferência de menores de 18 anos para clubes do exterior, para combater o que chama em seu site de mercado de escravos.

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